Os avanços das safras brasileiras de grãos

18 de janeiro de 2020 às 0h01

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Crédito: Fabio Scremin/APPA

Benjamin Salles Duarte *

Não há como dissociar a oferta de grãos, cereais e oleaginosas, não apenas indispensáveis nos cenários diversos dos sistemas agroalimentares, pois também são matérias-primas de base na formulação de alimentos usados na pecuária de leite e corte, suinocultura, avicultura de corte e postura.

Por outro lado, o crescente mercado PET, que atende os animais de estimação como os cachorros, gatos, pássaros, peixes, pequenos roedores, que vivem nos milhares de lares brasileiros, determina elevados gastos com alimentação balanceada, incluindo-se os grãos, e sendo estimado em 140 milhões de exemplares nesse universo PET. Em 2018, o Brasil ocupava o 2º lugar no mercado pet mundial, depois dos EUA (Euromonitor).

Por que crescem as safras de grãos?  Os mercados interno e externo estimulam a agricultura de grãos; demandam muitos insumos agrícolas, boas práticas, pesquisas e tecnologias; fazem circular múltiplos negócios nas regiões produtoras; e tracionam o crédito rural, indispensável, e como ferramenta à inovação!

E as safras brasileiras de grãos? Estão numa curva ascendente e expressiva. Assim, em 1980 ofertou 50,8 milhões de toneladas de grãos, destacando-se que a taxa de urbanização era de 67,6%, e acelerando também a progressiva migração dos mercados de alimentos focados nos cenários rurais para as cidades e regiões metropolitanas, à medida em que esse processo migratório demográfico, irreversível, vem sendo mais intenso desde a década de 1950, e acompanhado pelo IBGE.

E mais, em 1990, 58,2 milhões de toneladas de grãos, e taxa de urbanização de 75,6% (1991); em 2000, 83 milhões toneladas de grãos, e taxa de 81,2%; em 2010, 149 milhões de toneladas de grãos, e taxa de urbanização de 84,3%. Estima-se em 2020: 248 milhões de toneladas de grãos (4º Levantamento/Conab), e sendo ainda previsto 90% dos brasileiros urbanizados em 2030 (IBGE). Esses consumidores concentrados e urbanizados, e as exportações do agronegócio brasileiro num mundo globalizante serão um norte na formulação de políticas agrícolas e conquista de novos mercados!

Em 2020, se for confirmada a previsão de 212,1 milhões de brasileiros e comparando-se a população de 1980, que era de 119,0 milhões de habitantes, com a estimada em 2020 haveria um crescimento populacional de 78,2% (IBGE). Em 1980, a oferta de grãos foi de 50,8 milhões de toneladas e presumindo-se 248 milhões em 2020 ou mais 338,1%; suficientes para abastecer e exportar commodities agrícolas, e sendo também 4,32 vezes maior do que o crescimento da população brasileira entre o ano de 1980 e 2020!

Os ganhos de produtividade e produção nas culturas e criações, desde a segunda metade da década de 1970, são novamente explicados pela adoção de inovações tecnológicas em níveis de produtores rurais e atendendo regularmente às demandas dos sistemas agroalimentares e agroindustriais, estratégicas, nos caminhos da comercialização, que são muitos!

Noutro ângulo, os ganhos de produtividade por unidade de área cultivada e por unidade animal, embora ainda haja muito o que desenvolver na agroeconomia, contribuem também à redução das pressões de demandas sobre os recursos naturais. O pesquisador Eliseu Alves, da Embrapa, estima que já 70% dos ganhos de produtividade na agricultura são devidos à adoção de tecnologia!

A safra de grãos 2019/2020 está fundamentada, por enquanto, em 64,2 milhões de hectares cultivados ou apenas 7,54% do território nacional (Conab), contra a média de plantios de lavouras de 76,8% na Dinamarca; Irlanda, 74,7%; Países Baixos, 66,2%; Reino Unido, 63,9%; e Alemanha, 56,9% (Embrapa Territorial/2017). No Brasil, contudo, ressalte-se que houve substantivos ganhos na oferta interna de grãos, e nas exportações de milho, complexo soja, carne bovina, carne de frango, suco de laranja, açúcar, café e derivados, bem como aquecendo as vendas de máquinas e equipamentos agrícolas.

Recorde-se também que a produtividade por unidade de área cultivada associa-se às sementes de ponta; ao manejo correto do solo; uso de fertilizantes e corretivos, precedidos pelas análises do solo; aos tratos culturais na hora certa; à distribuição das chuvas; relação custo versus benefícios; e às práticas de irrigação, onde houver agricultura irrigada.

O potencial brasileiro é de 30 milhões de hectares contra os atuais 6,95 milhões de hectares irrigados. A China e Índia, 70 milhões de hectares cada; EUA, 26,7 milhões; e Paquistão, 20,0 milhões (ANA-2017). A agricultura irrigada representa apenas 20% de toda terra cultivada no planeta, e fornece 40% da oferta mundial de alimentos (FAO); não há consenso firmado cerca desses dados!

Vale igualmente salientar que a economia agroflorestal continua sendo um braço forte da economia brasileira. Em 2018, segundo Relatório da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá/2019), setor que inclui pisos e painéis de madeira, papel, celulose, madeira serrada e carvão vegetal.

Houve um crescimento de 13,1% em relação a 2017, e uma receita total de R$ 86,6 bilhões. As exportações atingiram US$ 12,5 bilhões, aumento de 24,1% em relação a 2017, e um novo saldo recorde US$ 11,4 bilhões, logrando a liderança mundial na exportação de celulose. No Brasil, a área total com árvores plantadas é de 7,83 milhões de hectares, gerando 513 mil empregos diretos, mas impactando direta e indiretamente 3,8 milhões de pessoas em 1.000 municípios de 23 Estados da Federação. Minas Gerais lidera o reflorestamento em nível nacional!

Além disso, o mundo precisa de 1,2 trilhão de novas árvores, plantadas em locais subutilizados, que poderiam contribuir à redução das mudanças climáticas, tema polêmico, estimando-se ainda que a Terra, enquanto planeta, abriga três trilhões de árvores (revista Sciense/07/2019), e que a floresta Amazônica reúne 50% da biodiversidade mundial.

Em 2019, e numa série histórica de superávits, as exportações do agronegócio brasileiro foram de US$ 96,78 bilhões e um superávit de US$ 83,0 bilhões. Considerando-se o período de janeiro 2015 a dezembro de 2019, superávit foi de US$ 398,02 bilhões (Agrostat/Mapa). Portanto, e sem subestimar outros setores econômicos, um desempenho auspicioso!

*Engenheiro agrônomo

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