Privatização não é panaceia

9 de julho de 2019 às 0h01

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CREDITO: CHARLES SILVA DUARTE/Arquivo DC

Cesar Vanucci *

“As empresas são células vitais da economia”. (Assim falava José Alencar)

É como falava o saudoso José Alencar Gomes da Silva, um baita fazedor de progresso. Um cidadão provido de aguda percepção social, inteligência privilegiada, notável capacidade empreendedora, que deixou sinais cintilantes na vida empresarial e na atividade pública. A pujança econômica – componente essencial do processo de evolução civilizatória – repousa no pressuposto basilar de uma cadeia de empresas prósperas. Não importam sejam elas (empresas) – células dinâmicas do labor humano – de gigantesco, grande, médio, pequeno, ou micro porte. Privadas, estatais, ou de economia mista, nacionais ou estrangeiras. O que conta mesmo é que se projetem prósperas, eficientes, proporcionem empregos e realizações sociais relevantes, assegurem a circulação da riqueza social, multipliquem benefícios comunitários à mancheia.

Fácil, bastante compreensível deduzir, a partir daí, que esse papo maroto de que uma empresa, pra ser de verdade competente, careça ser privatizada é pura balela. Falácia, não com segundas, mas com sextas intenções. Embromação marqueteira. Cortina de fumaça lançada com o fito de encobrir censuráveis maquinações.

Privatização de empresa não é, coisíssima alguma, condição fatalística para que os negócios públicos funcionem melhor. Funcionem a contento, se ajeitem nos conformes adequados aos superiores interesses da coletividade. É sempre recomendável conservar o desconfiômetro ligado à toda quando ocorra de pintarem no pedaço vozes tonitruantes apontando a privatização como dogma de fé a ser, religiosa e prontamente, adotado dentro de um alinhamento inspirado em concepções administrativas avançadas, universalmente acatadas. Isso não passa de engodo. “Conversa mole pra boi dormir”, como era de costume dizer-se em tempo de antanho…

Tais considerações chegam a propósito desse novo surto de privatizações a qualquer preço que assola o País, nesse perturbador instante de notória estagnação econômica com perversas consequências sociais. Os aparelhos de percepção pessoal do cidadão comum, atônito e, por conseguinte, desmotivado face à pororoca avassaladora de equívocos praticados, não é de hoje na gestão das coisas públicas, com reflexos pronunciados nas atividades produtivas, só fazem captar desestimulantes falas oficiais de desmobilizações, cortes, privatizações, o escambau. Tudo isso concorre deploravelmente para que a economia do país mais pródigo do mapa-múndi em potencialidades, em riquezas naturais, esteja operando em visível marcha à ré, desacorçoando investidores em potencial, expandindo a níveis insuportáveis o desemprego, arremessando multidões numa informalidade laboral sem perspectivas.

É o bom senso e as saudáveis práticas de gestão que reclamam. Estabelecer discussão prioritária, ampla, geral e irrestrita com a sociedade em torno da indispensável, urgente e inadiável retomada do crescimento econômico precisa ser objeto de cogitação. E isso antes, bem antes de se abrir qualquer debate a propósito da privatização de ativos públicos valiosos, providência que, obviamente, recomenda participação ativa, sem restrições, de todos os segmentos envolvidos na operação. A convocação das forças vivas nacionais para uma conjugação de esforços com o intento de fazer a economia crescer não pode ser indefinidamente procrastinada. Identificar em processos de privatizações a torto e a direito saídas para as crises que nos rodeiam não deixa de sinalizar desconcertante despreparo gerencial de quem se anime a formular tal tipo de proposta.

O passado é pródigo em lições sobre como decisões desse gênero são passiveis de suscitar estragos e encrencas difíceis, senão impossíveis, de serem sanadas.

Falaremos disso na sequência.

  • Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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