Moro: Bolsonaro pressionou por troca na PF

6 de maio de 2020 às 0h09

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Em depoimento, ex-ministro da Justiça revelou que presidente o pressionava para trocar comando da PF no Rio | Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Brasília – O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro informou ter recebido uma mensagem do presidente Jair Bolsonaro em que ele cobrava a substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Carlos Henrique de Oliveira, segundo íntegra do depoimento prestado por Moro.

“Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, disse Moro no depoimento prestado no sábado em Curitiba, dizendo que a mensagem enviada por Bolsonaro por WhatsApp tinha “mais ou menos” este teor.
O depoimento de Moro foi dado no âmbito da investigação sobre pronunciamento em que o ex-ministro, ao apresentar sua demissão do cargo, acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. O inquérito tramita perante o Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-ministro esclareceu no depoimento que não nomeou e não era consultado sobre as escolhas dos superintendentes da PF. Disse que essa escolha cabia exclusivamente ao então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e destacou que nem sequer indicou o superintendente da PF do Paraná, estado de origem dele.

A Procuradoria-Geral da República informou ontem que vai investigar, no âmbito do STF, a troca do comando da PF no Rio. Na manhã de ontem, em entrevista a jornalistas, Bolsonaro confirmou a troca do superintendente da PF naquele Estado.

Pressão – No depoimento, Moro disse que os motivos para a troca do superintendente da PF no Rio deveriam ser questionados ao presidente da República. Ele afirmou ter conversado com Valeixo sobre a solicitação de Bolsonaro e que o então diretor-geral ameaçou se demitir, mas foi demovido.

O ex-ministro afirmou que, “principalmente” após a tentativa frustrada de Bolsonaro de trocar o comando da PF no Rio, o “presidente passou a insistir na substituição do diretor da PF, Maurício Valeixo”.

Moro disse que Valeixo declarou a ele que “estava cansado” da pressão para a sua substituição e para trocar o superintendente da corporação no Rio. Afirmou que, por esse motivo e também para evitar conflito com o presidente, Valeixo disse que concordaria em sair.

“Nesse momento, não havia nenhuma solicitação sobre interferência ou informação de inquéritos que tramitavam no Rio de Janeiro”, declarou.
Moro chegou a admitir no depoimento que, apesar da resistência, cogitou aceitar as trocas, desde que o novo diretor-geral da PF fosse “de sua escolha técnica e pessoa não tão próxima ao presidente”.

“Depois, porém, entendeu que também não poderia aceitar a troca do SR/RJ (superintendente do Rio de Janeiro) sem causa”, complementou o ex-ministro. (Reuters)

STF autoriza depoimento de ministros

Brasília – O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem as diligências solicitadas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, no inquérito que apura suposta tentativa de interferência na Polícia Federal (PF).

No pedido encaminhado na segunda-feira (4) ao relator, Aras pediu autorização para a tomada de depoimento de três ministros, seis delegados da Polícia Federal (PF), da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), além da realização de perícias. As medidas foram tomadas após o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro prestar depoimento à PF, no sábado (2). Ao deixar o governo, Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferência na corporação.

O procurador-geral da República também solicitou a cópia de uma reunião realizada no dia 22 de abril entre o presidente Bolsonaro, o vice-presidente, ministros e presidentes de bancos públicos, e os comprovantes das assinaturas de exoneração a pedido do ex-diretor da PF Maurício Valeixo.

Desde a exoneração de Moro, o presidente nega que tenha pedido para o então ministro interferir em investigações da PF. (ABr)

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