Empresários chineses aguardam sinais de Bolsonaro
São Paulo – Após investimentos bilionários no Brasil nos últimos anos, empresários chineses estão «em compasso de espera» e aguardam sinalizações do presidente eleito Jair Bolsonaro antes de definirem novos negócios, disse ontem o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang.
Projetos de investimento de empresas chinesas no Brasil confirmados desde 2003 representam aportes de US$ 54,1 bilhões, segundo um boletim do Ministério do Planejamento no mês passado, com outros projetos já anunciados no período que envolvem US$ 70,4 bilhões.
Mas Bolsonaro tem em diversas ocasiões apontado a China como um predador que busca dominar importantes setores da economia brasileira, o que acendeu um sinal de alerta no gigante asiático em relação a novos investimentos no País.
“Os chefes de muitas grandes empresas chinesas estão preocupados. Não é que os negócios estão sendo afetados, eles simplesmente estão em compasso de espera”, afirmou Tang, que assessora diversas empresas chinesas em transações no Brasil.
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“Ninguém vai vir se não é bem-vindo. Os chineses estão cheios de dúvidas”, acrescentou o dirigente, que falou por telefone diretamente da China.
O presidente da Câmara Brasil-China citou negociações da chinesa CNPC com a Petrobras para conclusão das obras da refinaria do Comperj, no Rio de Janeiro, como exemplo de negócio que poderia ser afetado no caso de se confirmar uma postura mais agressiva do Brasil em relação à China.
A estatal assinou com a CNODC, subsidiária da chinesa CNPC, um acordo para conclusão das obras da refinaria do Comperj, paralisadas desde 2014 após denúncias de corrupção reveladas pelas autoridades na Operação Lava Jato. O negócio ainda envolve investimentos no cluster de Marlim, na Bacia de Campos.
“O presidente eleito Bolsonaro deve entender que é muito melhor terminar o Comperj que deixar ele apodrecendo… tem de dar graças a Deus que chineses querem vir terminar”, disse Tang.
Bolsonaro recebeu ontem um grupo de chineses, liderado pelo embaixador da China no país, Li Jinzhang, em encontro com a presença do economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. Após a reunião, Bolsonaro disse em entrevista à TV Bandeirantes que o comércio com a China poderá até ser ampliado e que o embaixador teria sinalizado que o país asiático não quer deixar de fazer negócios com o Brasil.
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Privatização – Em outubro, ainda como candidato, Bolsonaro queixou-se de que a China, principal parceiro comercial brasileiro, “não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”. A afirmação aconteceu em meio a perguntas de jornalistas sobre intenções de seu governo de levar adiante uma proposta de privatização da Eletrobras anunciada pelo presidente Michel Temer. “Quando você vai privatizar, você vai privatizar para qualquer capital do mundo? ) Você vai deixar o Brasil na mão do chinês?”, questionou Bolsonaro na ocasião.
Além dessas declarações, também gerou irritação no governo chinês uma visita de Bolsonaro a Taiwan em fevereiro. Pequim considera a ilha autogovernada e democrática como uma província dissidente. “A China já demonstrou, que não gostou muito das declarações de Bolsonaro e muito menos da visita dele a Taiwan”, afirmou Tang. (Reuters)
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