Após ameaças de greve, tabela de fretes é suspensa

23 de julho de 2019 às 0h04

img
Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

São Paulo/ Brasília – A nova tabela de pisos mínimos de fretes foi suspensa ontem pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em decisão tomada após pedido do Ministério dos Transportes, pressionado por ameaças de greve de caminhoneiros insatisfeitos com seus valores.

A tabela, que usa uma nova metodologia desenvolvida pela Esalq-USP, havia sido aprovada pela própria ANTT, na quinta-feira passada (18), e tinha entrado em vigor no sábado, mas entidades representantes de caminhoneiros autônomos reclamaram que os valores estipulados são insuficientes para remunerar adequadamente a atividade.

Após ameaças de greve prometidas para ontem, o ministro dos Transportes, Tarcísio de Freitas, pediu para a ANTT rever a aplicação da nova tabela, prometendo uma reunião com os caminhoneiros amanhã para discutir o assunto.

Em seu voto durante reunião extraordinária da ANTT, o relator da matéria, diretor Davi Barreto, afirmou que “entende ser relevante avaliar se é interessante desconsiderar” no cálculo da nova tabela a margem de lucro dos caminhoneiros autônomos. Pela metodologia da Esalq-USP, a tabela de pisos mínimos considera apenas custos fixos e variáveis dos caminhoneiros, cabendo aos próprios motoristas negociarem com os contratantes de carga a margem de lucro do serviço.

Segundo a ANTT, com a suspensão, volta a valer a resolução de maio do ano passado, aprovada às pressas pelo governo Michel Temer, pressionado por uma greve nacional de caminhoneiros que durou 11 dias e afetou a economia do País nos meses seguintes. Essa resolução prevê atualizações da tabela segundo oscilações do preço do diesel pela Petrobras. A última atualização ocorreu em abril e prevê um custo por quilômetro por eixo de R$ 2,19 em trajetos de até 100 quilômetros para carga geral e de R$ 2,14 em carga a granel, segundo a ANTT.

Antes, Freitas já havia informado que a tabela antiga continuará em vigor “até que consigamos construir consenso”. A ANTT também havia afirmado que não chegou a aplicar qualquer penalidade com base na nova tabela, que foi publicada prevendo multas de até R$ 10,5 mil.

De acordo com o Ministério de Infraestrutura, Freitas tem mantido diálogo frequente com lideranças dos caminhoneiros. A categoria apoiou, em sua maioria, o presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, mas, desde março, lideranças isoladas têm defendido nova paralisação.

Carta branca – Após a fala do ministro, Bolsonaro afirmou que Freitas tem “carta branca” para negociar com os caminhoneiros e que não orientou a suspensão da tabela.

A nova tabela de fretes foi aprovada após quatro rodadas de audiências públicas neste ano. A próxima revisão oficial estava prevista apenas para o início de 2020. Entre os custos fixos considerados pela tabela estão depreciação do veículo e seguro, já entre os custos variáveis estão combustível, pneus e manutenção dos veículos.

Ontem, protestos esparsos de caminhoneiros foram divulgados em redes sociais e por vários grupos no WhatsApp, em estados como Paraíba, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, segundo entidades representantes de motoristas autônomos consultadas pela Reuters.

As movimentações acontecem no momento em que o Brasil colhe a safra de grãos de meio de ano, a safrinha, período em que a demanda por transporte é maior. (Reuters)

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail