Ausência de corte seria decepção para mercado

20 de julho de 2019 às 0h04

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Crédito: Enildo Amaral / BCB.

São Paulo – A ausência de corte de juros pelo Banco Central, no fim deste mês, causaria uma “decepção” no mercado, que, neste momento, discute a magnitude do afrouxamento monetário, disse, na sexta-feira (19), Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, que considera ainda que o mercado exagerou na dose ao reduzir o prêmio de risco para o Brasil.

A curva de DI indicava 85% de probabilidade de redução de 0,25 ponto percentual da Selic no próximo dia 31, conforme a ferramenta da Reuters. Até o fim do ano, os contratos de DI da B3 colocavam o juro básico em torno de 5,5%, 1 ponto percentual abaixo do atual patamar, de 6,5% ao ano.

“Um não corte representa uma diferença muito grande do que está nos preços. Seria uma decepção para o mercado”, afirmou o executivo.

A pesquisa Focus mostrava redução de 0,25 ponto para o fim de julho, mas o Itaú está no time dos que veem alívio de 0,50 ponto.

Para Gonçalves, o BC já vinha destacando a inflação “mais contida”, mas não tinha conforto em cortar os juros porque não havia progresso no andamento da reforma da Previdência.

“Mas esse avanço já ocorreu. E essa combinação de inflação benigna e reformas em andamento é consistente com a comunicação do BC, que indica espaço para queda relevante dos juros”, disse o profissional.

No começo de julho, o Itaú ainda esperava corte da Selic de 0,25 ponto. O banco passou a ver uma distensão monetária mais intensa com a aprovação do texto principal da reforma das aposentadorias em primeiro turno na Câmara.

“As medidas dos núcleos de inflação estão bastante contidas. Nesse contexto, o que faltava era redução do risco fiscal. E isso foi feito com a Previdência”, afirmou Gonçalves.

Mas o espaço para corte de juros no Brasil não vem apenas dos fatores idiossincráticos. O executivo do Itaú chama atenção para as amplas expectativas de reduções de taxa nos Estados Unidos.

A probabilidade de o Fed diminuir a meta para o juro básico de forma mais agressiva, em 0,50 ponto, saltou nos últimos dias e estava em quase 37% na sessão de sexta-feira. O Fomc e o Copom anunciam suas decisões de política monetária no mesmo dia, 31 de julho.

“Não devemos subestimar a influência que um terá no outro”, disse Gonçalves.

Câmbio – O Itaú estima orçamento total de baixa da Selic em 150 pontos-base, em três reduções de 0,50 ponto cada. Assim, a Selic terminaria 2019 em uma nova mínima recorde de 5,00%, patamar no qual permaneceria ao longo de todo o ano de 2020.

Tamanha queda, contudo, limitará o efeito positivo no câmbio decorrente da melhora de percepção de risco com as reformas.

“Esperamos que o Fed reduza os juros em 75 pontos-base. Ou seja, o diferencial de taxa entre Brasil e Estados Unidos continuará caindo, o que reduzirá o estímulo a aplicações na renda fixa brasileira, fator que pesa sobre o real”, afirmou Gonçalves.

Junto a isso, o executivo acredita que o prêmio de risco do Brasil (medido pelo CDS de cinco anos) caiu além do que poderia, uma vez que a potência fiscal da reforma da Previdência não necessariamente reduzirá a relação dívida/PIB do Brasil nos próximos anos.

O CDS de cinco anos do Brasil estava em torno de 127,4 pontos-base na sexta-feira, perto de mínimas desde setembro de 2014.

“Com a queda do diferencial de juros e o CDS ajustando um pouco para cima, temos motivos para um dólar de R$ 3,80 no fim do ano”, disse Gonçalves. (Reuters)

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