EDITORIAL

18 de agosto de 2018 às 0h00

Nos últimos quatro anos, pouco mais ou pouco menos, a retração na economia mascarou os efeitos dos gargalos que o País enfrenta na logística e na mobilidade. Em ambiente mais normal, de expansão da economia, e mantidas as condições que se apresentam, a situação seria, hoje, de colapso. É o que indicam os estudos disponíveis e dados como os recentemente apresentados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Como ponto de partida – e compreensão -, é preciso saber que o transporte rodoviário responde, na atualidade, por 61% da movimentação de cargas e por espantosos 95% de movimentação de passageiros. Sendo assim, não é necessário lembrar as proporções dos acontecimentos do mês de maio passado, quando caminhoneiros bloquearam as principais rodovias no País, provocando virtual paralisação das atividades econômicas. Na ocasião e diante da evidente distorção, não faltou quem lembrasse, e com razão, do absurdo do desequilíbrio existente e do virtual abandono de modais que poderiam ser mais econômicos e mais eficientes. Faltou dizer que as rodovias também estão abandonadas, conforme demonstram agora os levantamentos da CNT. São dados absolutamente espantosos. Entre os anos de 2009 e 2017 a malha rodoviária pavimentada do País cresceu apenas 0,5%, com menos de mil quilômetros entregues. No mesmo período a frota motorizada, considerados todos os tipos de veículos, cresceu 63,6%, passando de 59 milhões para 98 milhões de unidades. Ainda segundo o relatório, existem no País, conforme números do ano passado, 1,7 milhão de quilômetros de estradas, dos quais apenas 213 mil, ou 12,4% do total, são pavimentados. Todo o resto é consequência, ajudando a explicar o custo do frete rodoviário e a insegurança, que faz do País campeão em acidentes rodoviários. O Estado brasileiro, é evidente, perdeu a capacidade de investir e, para piorar, a malha existente está em processo de deterioração por falta de manutenção, potencializando prejuízos para todas as partes. Não tem capacidade de investir e, tudo indica, igualmente de atrair, na escala e com a agilidade que se fazem necessárias, investidores privados, através dos programas de concessão dos quais muito se tem falado. Se esta é a situação do modal mais importante, imagina-se o que se poderia dizer acerca das ferrovias, em que cometeu-se o desatino de reduzir a malha, da navegação interna, que a rigor só existiu nos primórdios da colonização, e da cabotagem, relevante até a primeira metade do século passado e também abandonada quando se entendeu que “governar é abrir estradas”. Olhar para a frente e tentar enxergar um futuro melhor significa, obrigatoriamente, colocar estas questões na pauta de debates e de construção de soluções.

EDITORIAL