Entrevistas com presidenciáveis

7 de agosto de 2018 às 0h00

Muitas pessoas viram a entrevista do candidato Jair Bolsonaro no “Roda Viva”, programa de alto prestígio de audiência da TV Cultura. Desconheço o critério da escolha dos entrevistadores, mas o conjunto deles desta vez foi de uma infelicidade tão grande quanto a alegria dos eleitores daquele candidato. Não foi uma entrevista: foi um interrogatório. Os jornalistas perderam muito tempo cobrando do candidato as atrocidades da ditadura militar que ele, por ideologia pessoal e dever de capitão reformado do Exército, defende com vigor. Não sou seu eleitor, mas lamento informar à esquerda de que ele se saiu muito bem nas respostas. Fez comparações incontestáveis entre os integrantes da esquerda armada de então e os militares à caça dela. Apesar do pelotão de fuzilamento de plantão na TV, o candidato conseguiu valorizar suas respostas se comparadas às anacrônicas perguntas dos entrevistadores. Nada de interesse de suas ideias presidenciais foi-lhe perguntado. As perguntas já chegaram prontas de casa, preparadas em fogão ideológico e fumegando com tempero de ódio acumulado há anos e não houve um único jornalista com bom-senso para impedir o anacronismo das cobranças. O mediador, militante da esquerda há anos, foi omisso e não fez qualquer inferência quando era hora de ele demonstrar a que veio. Uma vitória a mais para o candidato que, se não ganhar no primeiro turno, não será nunca presidente do País. Vimos também a entrevista do candidato Ciro Gomes na Globonews. Sabe-se que há campanha contra ele em Fortaleza, chamando-o de “cangaceiro”. Mas o que os espectadores viram na quarta-feira foi um show de conhecimento e de vivência na vida pública. Além de um curriculum que o fez professor de Direito Constitucional, foi também ministro da Fazenda de Itamar Franco, participou do Plano Real, foi ministro da Integração, deputado estadual e federal, prefeito e governador. Portanto, é conhecedor da administração pública. Além disso, fez várias denúncias de fatos gravíssimos de nossas legislações beneficiadoras de grandes fortunas que, junto com a Estônia, não taxa imposto de renda sobre dividendos pagos pelas empresas. E deu exemplo estarrecedor: um banco não citado distribuiu nove bilhões de reais de dividendos aos integrantes de quatro famílias brasileiras e nem um único real foi pago de imposto de renda. Como Ciro fez questão de lembrar com frequência: isso ocorre apenas no Brasil e na Estônia. Estão certos o Brasil e a Estônia e o resto do mundo errado? Ao final da entrevista, era visível que jornalistas experientes como Gerson Camarotti e boa parte do restante dos nove entrevistadores não tinham mais argumentos para questioná-lo. Ele respondeu a tudo com a segurança de quem conhece Direito e administração pública. Mas, traído pelo PT e PSB, isolado e com dificuldades para encontrar um candidato a vice que lhe garantisse mais popularidade e votos, terá que enfrentar muito ódio da extrema esquerda para chegar ao segundo turno. Nas últimas eleições, as pesquisas dos diferentes institutos foram desastrosas nas tentativas de serem profetas. Poucos, muito poucos resultados se confirmaram. Se elas agora estão corretas, Bolsonaro, Ciro e Alckmim têm chances de chegar ao segundo turno, junto com o poste a ser indicado por Lula. A facilidade para governar de qualquer um que seja eleito no segundo turno será se um novo Congresso amigável com esmagadora maioria for eleito junto com ele. A sua dificuldade será se os seus novos integrantes forem eleitos com descarados conflitos ideológicos com o novo Poder Executivo. Aí o novo presidente chegará de braços e pernas amarrados, impedido de governar. E a crise pode durar mais alguns anos. * Advogado, psicanalista e escritor

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