O fim de um ciclo

6 de novembro de 2018 às 0h01

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Foto: Reprodução

Celso Tracco*

A eleição presidencial de 2018 foi histórica em muitos aspectos e talvez seu resultado possa mudar o rumo da, ainda jovem, democracia brasileira.

O primeiro aspecto que devemos observar é que o Partido dos Trabalhadores (PT) participou de todas as eleições diretas para presidente desde 1989. Sempre foi uma participação de protagonista, ficando em 2º lugar em 1989, 1994, 1998 e 2018 e vencendo em 2002, 2006, 2010 e 2014. Isto não é de se desprezar, afinal o partido foi fundado em 1980 e sua estrutura surgiu de uma inusitada união entre intelectuais acadêmicos de esquerda e uma forte base sindical. Operacionalmente, para alcançar uma rápida capilaridade, usou, entre outras estratégias, a rede das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (CEBs). Com isso, tomou conta das periferias, sempre muito carentes, das grandes cidades. Na década de 80 o País já dava muitos sinais de cansaço e esgotamento do regime militar, instaurado em 1964. Além disso, na economia, a década de 80 foi conhecida como a década perdida, com baixíssimo crescimento. Há de se reconhecer, politicamente falando, que ninguém soube aproveitar melhor essas condições que o PT.

Sendo oposição e perdendo, nas eleições de 1989, 1994 e 1998, chegou ao poder em 2003 permanecendo até o final de 2015, quando se iniciou o processo de impeachment da então presidente, Dilma Rousseff. Em 2018, o PT chegou mais uma vez ao segundo turno, mesmo em condições muito adversas, pois seu principal dirigente político está preso desde abril.

O segundo aspecto é que tivemos o improvável surgimento da candidatura de um ex-capitão do Exército que se tornou deputado federal em 1990 e sempre foi, em sua vida pública, um opositor ferrenho do PT. Destacou-se mais pelo seu tipo de comunicação, severo e autoritário, do que pelos seus feitos parlamentares. Na verdade, Jair Bolsonaro nunca usou uma estrutura partidária. Em sua vida parlamentar, já passou por oito partidos, o que prova que o sistema político brasileiro está desgastado, é anacrônico e não representativo. Com seu discurso de extrema-direita, de ordem e progresso e de liberalismo econômico, um parlamentar sem dinheiro, sem apoio partidário, sem tempo de televisão, sem apoio da mídia, baseando sua comunicação com os eleitores via mídias sociais, derrotou os maiores partidos brasileiros de forma inapelável. PSDB e PT, que protagonizaram as eleições por vinte anos, enlameados por muitos escândalos de corrupção e desgoverno, foram democraticamente rejeitados nas urnas.

A alternância de poder é saudável, mas infelizmente o poder corrompe. O PT, em certo sentido, foi vítima de seu próprio veneno. Encastelado no poder, esqueceu-se de suas origens, das periferias. Não promoveu nenhuma das reformas necessárias e seu populismo de esquerda levou o País à maior recessão de sua história. Paradoxalmente, o Partido dos Trabalhadores promoveu altas taxas de desemprego, um déficit fiscal gigantesco e a paralisia da economia. Parece que não queremos aprender com a história. As mesmas condições que levaram o PT do nada ao centro do poder, o derrubaram pela sua ganância, corrupção e distanciamento de suas origens. A história se repete. Esperemos, para o bem do País, que o fim seja diferente.

*Economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual

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