Que não nos falte paciência

15 de novembro de 2019 às 0h01

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Aristoteles Atheniense *

Enquanto perdurar o clima de beligerância entre governo e oposição, o Brasil correrá o risco de se atolar num charco de profundeza irremediável. Não bastassem os temas explosivos envolvendo questões trabalhistas e previdenciárias, somadas à crise do desemprego e privatizações, temos agora o embate travado entre Lula e Bolsonaro, ambos com a obsessão de reaver um prestígio que se esfacela a cada dia.

O presidente não mede adjetivos nas respostas dadas ao seu detrator, repelindo a mordacidade lulista, tomado do propósito de não deixá-lo falar por último. Nenhum dos contendores propõe um debate útil para a crise atual. Só lhes interessa criar um ambiente de adversidade permanente, cada um procurando aniquilar o adversário, o quanto antes, mesmo valendo-se dos meios mais condenáveis.

A opinião do ofensor haverá de superar a do ofendido. Não mediante um raciocínio lógico e convincente, mas sim na troca de farpas, pouco importando os males que possam advir dessa contenda.

O recente anúncio da criação de 4 mil empregos até 2022, embora possa empolgar, está ligado diretamente ao pleito municipal daquele ano. A preocupação é captar a simpatia da nova geração, já não se falando mais, neste processo, da participação de trabalhadores com idade superior a 55 anos. Ficou somente a promessa.

Tudo é política, simplesmente política, na acepção mais perversa desse termo. A luta pela hegemonia não tem princípio nem limites. De um lado, Lula pretende agitar o País, equiparando-o em seus anseios ao Chile e Bolívia; de outro, Bolsonaro irá criar um novo partido para as eleições futuras, tenha ou não uma linha de conduta definida. Basta que favoreça aos seus postulados conservadores, segundo a orientação recebida do mentor Olavo de Carvalho.

Há, pois, uma polarização entre bolsonarismo e lulismo. Esta poderá favorecer o presidente, que ganhará maior força na personificação de suas ideias, através de mistificações e investidas, que em nada contribuirão para a paz social.

Não será através do aproveitamento de jovens desqualificados, estimulando a criação do primeiro emprego, que essas fendas deixarão de existir e a confiança será restabelecida. Ambas as facções não estão em busca de soluções concretas, mas, propensas a converter o País num campo permanente de digressões e, quem sabe, até de luta armada. Pouco importa o número dos que tombarem neste flagelo.

Lula cometeu o desplante de exaltar os infratores adolescentes, de modo a converter a delinquência num meio indecoroso de conquista do poder. Desde que deixou a prisão não se conforma com a condição de condenado, insistindo em se fazer passar por inocente, como se os escândalos ocorridos no mensalão e na Petrobras, envolvendo os seus parceiros, não passassem de mera ficção.

Bolsonaro, por sua vez, prima pelo desapreço aos valores da democracia, carecendo do mínimo de decoro indispensável para exercer a suprema magistratura da Nação. Falta-lhe o equilíbrio necessário para assegurar a nossa estabilidade política. Adora a contenda, empolga-se com o desaforo, não deixando escapar a oportunidade de desafiar os adversários, chegando a ridicularizá-los. Nada surpreende na conduta do capitão reformado, que reverencia os protagonistas da barbárie e do regime militar.

Esse modelo de antagonismo não pode subsistir, com os beligerantes arrastando a Nação a um risco desmensurado, empolgados somente pelas suas bravatas. Seja na porta do Palácio da Alvorada, seja no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo.

Este é o melancólico quadro com que nos defrontamos no momento. Linguajar chulo de parte a parte. O que saiu, procura dar a impressão de que é um homem livre, quando, na realidade, não passa de um preso solto. Já o presidente, não se empenha em angariar a confiança do povo que o elegeu. Basta-lhe o aplauso dos que perfilham de suas ideias e do apoio de que desfruta de parte de Donald Trump.

Será o caso de repetir a indagação que Cícero fez ao senador Catilina no Império Romano: “Até quando, Lula e Bolsonaro, abusarão da nossa paciência?”

* Advogado, Conselheiro Nato da OAB e Diretor do IAB

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