Economia

Fábrica de aviões da Desaer em Araxá não sai do papel

Expectativa era erguer unidade às margens do Aeroporto Romeu Zema, na cidade
Fábrica de aviões da Desaer em Araxá não sai do papel
Desaer não cumpriu prazos para erguer unidade em área cedida pela Codemge à empresa | Crédito: Divulgação/Desaer

Um projeto robusto, com previsão de investimentos vultosos, forte geração de emprego e renda, incrementos significativos na arrecadação municipal e grande impacto positivo na atração de novas empresas. A expectativa era imensa para a construção da fábrica de aviões da Desaer – Desenvolvimento Aeronáutico em Araxá, no Alto Paranaíba, mas tudo leva a crer que o projeto não será concretizado, ficando somente no papel e nos sonhos dos gestores e da população.

Segundo a Prefeitura de Araxá, a empresa não cumpriu os prazos intermediários para o início das obras do empreendimento. A unidade seria erguida às margens do Aeroporto Romeu Zema, em uma área de 277,8 mil metros quadrados, cedida pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) ao município, que repassou à companhia. Com o descumprimento das obrigações, o Executivo informa que está discutindo junto ao Estado sobre o futuro do terreno.

O contrato de cessão da área, firmado entre a prefeitura e a Desaer em 14 de abril do ano passado, estabeleceu um período-limite de 180 dias para que a empresa iniciasse a intervenção, o que não aconteceu. Também determinou que, em 24 meses após a assinatura, ou seja, até o quarto mês de 2024, a planta precisa estar em funcionamento, o que se torna bem difícil de ocorrer em tão pouco tempo, visto que nem a pedra fundamental, que marca o começo efetivo da fundação, foi lançada.

Início das obras vem sendo postergado há quase três anos

Desde março de 2021, quando o acordo para implantação da unidade foi anunciado pelo CEO e um dos sócios-fundadores da Desaer, Evandro Fileno, a empresa vem informando uma nova data para o início das obras. Na época, a previsão era que começassem no segundo semestre daquele ano. Em junho de 2022, foi dito que a construção teria início em 90 dias (setembro). Já em abril deste exercício, o empresário afirmou que a intervenção poderia começar no mês de maio.

E a expectativa de todos diante da fábrica não era em vão. A fabricante de aviões regionais com capacidade para até 50 passageiros prometia investir US$ 100 milhões no local, gerar cerca de 1.250 vagas de empregos, entre diretos e indiretos, e produzir, inicialmente, quatro aeronaves por mês. O CEO chegou a afirmar em uma oportunidade que a empresa já tinha contratos de compras assinados e que outras negociações para venda antecipada dos veículos estavam em curso.

Município não concorda mais com a instalação da Desaer em Araxá, diz vereador

Desconfiando da demora da implantação do projeto, o vereador de Araxá Evaldo do Ferrocarril (PV) enviou, em setembro último, um requerimento pedindo informações sobre o andamento do mesmo ao procurador-geral do município, Jonathan Ferreira, e ao secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo, Juliano Cesar da Silva, que encaminharam para a Desaer. A empresa, por sua vez, retornou com um ofício justificando o atraso do cronograma.

No documento, a companhia alegou que as recentes alterações na economia mundial com reflexos no Brasil, por consequência da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia, impactaram as negociações que estavam em andamento com possíveis investidores. Também citou uma elevação da inflação, taxas de juros e problemas de crédito no País e em bancos americanos. Para o parlamentar, as respostas foram evasivas e o projeto, de fato, não deve sair do papel.

Conforme o parlamentar, a Desaer também não convenceu o Executivo, que já não concorda com a instalação dela em Araxá. “Conversei com o procurador (Jonathan Ferreira) hoje (quarta-feira) para saber se tinha algum fato novo e não teve. Ele disse que agora o município quer que o Estado não prorrogue os prazos (para instalação da fábrica). Eles querem a área para fazer outro investimento”, afirmou, explicando que a ideia é ter o espaço para ofertar a outras empresas.

Procurada, a Codemge confirmou que a doação do terreno ao município está condicionada à implantação da fábrica. Logo, foi posta uma cláusula de reversão no caso de não cumprimento do projeto voltado ao desenvolvimento econômico da região, com a área retornando para a estatal. Já a Desaer não respondeu aos insistentes contatos da reportagem até o fechamento desta edição.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas