Antes que a fonte seque

27 de outubro de 2021 às 0h26

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Crédito: Agência Brasil

Ficamos pelo menos seis meses sem uma chuva de verdade no Noroeste de Minas. O sol que nos castigou a pele também adiou a etapa de plantio, tão importante para a nossa economia, cujo ponto forte é a produção de grãos, sementes e algodão. As altas temperaturas, a estiagem e as queimadas sem controle são uma importante mensagem vinda da natureza. Precisamos estar de olhos e ouvidos atentos para captá-la. Afinal, o que nos importa: a produção ou o meio ambiente? Para nós, produtores rurais, a resposta é simples de verbalizar, mas um desafio para a prática do cotidiano: precisamos produzir mais e de maneira sustentável.

A natureza não vai nos esperar, caso decidamos caminhar a passos de tartaruga. Nosso ecossistema está gritando por socorro e temos uma grande parcela de responsabilidade nisso. O Cerrado abriga uma população em torno 46 milhões de pessoas e também é um dos habitats de maior biodiversidade do globo, segundo o ICMBio. Segundo cálculos de especialistas, a região abriga em torno de 5% da fauna de todo o mundo, além de contar com 12 mil espécies da flora. Um privilégio que aumenta a nossa responsabilidade, especialmente quando pensamos nos riscos de queimadas. O fogo descontrolado nos campos e florestas é o grande vilão que prejudica a disponibilidade hídrica ao afetar a vegetação, a permeabilidade do solo e ao destruir matas ciliares. Por consequência, o saldo final de grandes queimadas é quase sempre a seca de nascentes e a destruição de cursos d’água.

Sim, queremos desenvolvimento. Precisamos de mais energia para atender a grandes e pequenas indústrias, pequenos e grandes produtores rurais. Precisamos aumentar a produção em todos os níveis. E também necessitamos de indústrias para agregar valor ao que produzimos. Não menos importante, é necessário fomentar a implantação de agroindústrias de processamento nos projetos de assentamentos da reforma agrária.

Eu concordo que tudo isso é meritório, mas tal processo precisa ser feito com boa orientação técnica, visando não comprometer os nossos mananciais. Afinal, sem água não podemos produzir. O futuro de nossos cultivos e safras ficam em risco cada vez que um rio morre um pouco mais ou quando uma nascente é comprometida, empobrecendo nosso solo.

Neste momento de reflexão e planejamento, devemos evitar extremos. Precisamos buscar o equilíbrio.

 A tarefa dos agricultores é produzir alimentos para nutrir a Humanidade de forma responsável. Precisamos encontrar um modelo onde todas as camadas sociais sejam beneficiadas. O grande produtor pode continuar fazendo do Noroeste o maior produtor de grãos do Estado e os pequenos e médios agricultores devem seguir prosperando e garantindo a segurança alimentar de nossa gente. E, neste ciclo de produção eficiente, o comércio local em seus mais distintos segmentos seguirá sendo estimulado pela força de nossa cadeia produtiva agrícola. Mas precisamos que isso seja feito de forma que não se agrida o nosso meio ambiente, que deve ser preservado.

Ou seja: a solução está na sustentabilidade e o melhor que temos a fazer é internalizar esse conceito e aplicá-lo em nosso dia a dia. Até porque o seu patrimônio, qualquer que seja o tamanho dele, precisa de um meio ambiente saudável. Os ambientalistas devem continuar alertando sobre a necessidade da preservação do meio ambiente sem achar que os produtores são predadores. Na verdade, somos partícipes de uma tarefa comum que é viver e preservar a diversidade de nosso planeta. Dependemos uns dos outros.

Ao entender os alertas sobre a necessidade de desenvolvermos produções agrícolas mais sustentáveis, fui atrás de conhecimento e fiquei encantado ao ver como pequenas cidades na Europa conseguem produzir muito sem degradar a diversidade ambiental local. Esses aprendizados sempre ocuparam um lugar especial na minha bagagem de experiências de viagens como gestor e como cidadão. Também pesquisei soluções usadas na África, continente afetado pela fome e com grande necessidade de produção alimentícia. Aquele continente também tem muito a nos ensinar.

É esta necessidade de equilíbrio que desafia a humanidade e todos nós precisamos nos abrir para entendermos nosso presente e colocarmos em prática os discursos em prol da sustentabilidade ambiental. Ainda estamos engatinhando para solucionar esta necessária convivência entre produção e preservação natural. Mas, em nossos tempos, já estamos convocados a encontrar soluções para a questão. O Noroeste precisa manter o crescimento e preservar seu maior patrimônio: os recursos naturais que fazem deste lugar uma terra tão rica e produtiva.

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